escrevo esse parágrafo menos de 5 minutos depois de ter enviado a news um relâmpago. estou triste, estou insatisfeita. me senti medíocre, senti que roubei o tempo de vocês.
o lance do momento fortuito foi tão epifânico e mal consegui desenvolver. comentar livros exaustivamente nunca foi um problema pra mim, mas, aparentemente, tá faltando vontade.
culpa do calor, culpa dessa época do ano, culpa das cobranças num trabalho online que já não aguento mais realizar. ligar o computador significa ter que lidar com certas demandas de professora (que trabalha pra outras pessoas) e isso me irrita profundamente. vou ter que pensar em uma forma de enxergar isso aqui (computador) como meu espaço de escrita e de criatividade para além das coisas que são exigidas de mim.
a boa notícia é que na próxima semana retorno ao ensino presencial, coisa que eu já tava querendo desde que a pandemia meio que se estabilizou.
com isso, vem o receio de não conseguir mais dizer coisas que sejam importantes, relevantes, inspiradoras. por que a gente sempre se cobra tanto a respeito das coisas que fazemos por pura teimosia?
muitas pessoas poderiam pensar “por que falar das falhas? não se deve falar quando se sente insegurança”.
acredito justamente no contrário. em muitas situações, falar como a gente se sente em relação a algo que fazemos é fundamental para entender as motivações das nossas ações, o resultado que esperamos, o resultado entregue e, em especial, quais expectativas queremos atender.
a expectativa da news anterior era completamente minha e não atendi. achei bom dividir isso com vocês, pois envolve não só o caso de “ai hoje não estou criativa”, mas uma pressão enorme para conciliar as coisas que eu gosto muito de fazer (escrever newsletter, escrever poemas) e aquilo que eu devo fazer (ser professora de inglês - que também é bom, porém).
muitos leitores da news também são escritores de newsletter e volta e meia falam sobre essas crises. muitos leitores dessa news não são escritores de newsletter, mas dividem o corpo em sete partes para conciliar aquilo que os sustenta economicamente e a teimosia - em geral uma teimosia artística.
essa carta, portanto, não é muito um desabafo, mas um entendimento em voz alta (ou em letra colocada na tela) de que a insatisfação é parte até mesmo das coisas que nos são mais caras.
talvez você estivesse precisando ler isso também, não sei. espero ter contribuído de alguma forma.
valentine’s day - considerações
graças ao fenômeno chamado internet (ou redes sociais, ou whatever) estamos expostas à enxurrada de conteúdos sobre amor e parceiros nesse 14 de fevereiro.
[não usei a palavra “expostas” à toa, ainda que eu prefira me referir sempre usando o feminino, por motivos de que sim, vou usar o gênero feminino nas palavras.]
digo que estamos expostas pois
é curioso que, para além da data (comemorada em muitos lugares), mulheres sempre sofrem esse tipo de exposição, assim de graça, na vida real (fonte: minha opinião, vozes da minha cabeça).
constantemente, somos convocadas a buscar um/uma parceiro/a, a dividir as contas a vida com alguém, a ser feliz juntos, a dormir de conchinha e isso e aquilo mais.
é curioso que (2) muitos desses conteúdos que chegam até mim são de fato importantes mais para que eu pense sobre o assunto do que me sentir culpada por estar sozinha.
ouvi um episódio excelente do podcast bom, dia, obvious sobre um termo cunhado por valeska zanello (pesquisadora e professora na área de psicologia, específico saúde mental e gênero): a prateleira do amor. acho que todas as pessoas desse mundo devem ouvir, mas especialmente mulheres solteiras ou em uma relação. é libertador.
uma das diversas matérias que se sobressairam nesse dia mundialmente amoroso está no site da Vox (What Science can’t still explain about love) e gostei de ler algumas teorias sobre como criamos nossas relações afetivas. elas são construídas? ou acontecem assim logo de cara baseada em nossas preferências?
para o bem ou para o mal, o site é em inglês e há também um episódio do podcast Unexplainable (Vox) abordando essas questões (as infos são as mesmas do texto).
acho interessante juntar essas duas visões: o podcast que aborda o tema do amor e relacionamento sob o prisma do gênero e, do outro, o amor como objeto de estudo da psicologia.
é isso.
clube de cinema de porto alegre #5 e #6
nas duas últimas sessões antes da pausa do carnaval, os associados tiveram o prazer de assistir dois filmes muito bons: o policial Holy Spider e o suspense político Garoto dos céus.
de minha parte, curti muito a experiência de assistir ambos. é outra pegada, diferente da estrutura narrativa e da fotografia industrializada dos streamings. quando me perguntam sobre o clube de cinema, se é legal, eu sempre falo que assisto filmes que, de outro modo, acabaria não tendo acesso.
sim, eu faço propaganda porque é bom mesmo!
tá certo, talvez - TALVEZ - eu esteja precisando de uma reabilitação devido ao vício em paul auster. mas é que tô obcecada, o que posso fazer?
(narrador: sério que você tá obcecada? quase não deu pra notar…)
vamos aos concluídos e aos in progress da última semana
o caderno vermelho, paul auster 5 ⭐
é daqueles livros que você lê tranquilamente em uma tarde. pelo titulo, achei que pudesse ter algo a ver com the locked room, pois nesse romance o personagem encontra um caderno vermelho e tal.
masss, não. embora o auster adore jogar elementos parecidos ou iguais em livros diferentes, o caderno vermelho propõe narrativas reais. essa é a premissa do autor: nesse livro temos anedotas, coisas que realmente acontecram. pra mim, é uma espécie de livro das coincidências. sobre isso, estou planejando uma grande edição, com supremo, com tudo, mas preciso de espaço e tempo pra escrever. me aguardem.
the locked room, the new york trilogy #3, paul auster 5⭐
trilogia de Nova York é um projeto literário. como projeto literário, faz com que pessoas que não estão nem aí pra como a escrita, autoria e recepção atuam, possam ler uma história interessante com intrigas do mundo cotidiano. quem dá a mínima para escrita, leitura, autoria e recepção simplesmente fica pirado com um troço desses. é brilhante. e, reforço, o que tem aqui já havia sido discutido nos poemas do Auster e continua em histórias posteriores. pra mim é evidente que abrir um livro de Paul Auster é estar sempre à espreita de um dos personagens vistos na trilogia ou frases que foram versos ou reflexões na fase poética dele.
é curioso (ou não) que os livros do auster possuam elementos idênticos: um escritor (ou alguém que se obriga a contar/escrever algo pra alguém), Nova York e Paris. isso somado à linguagem como dúvida, ao mesmo tempo que é o objeto capaz de nos levar à compreensão do mundo.
em invisível, adam walker conhece o professor universitário rudolph born e sua companheira belíssima e lacônica, a francesa margot.
walker, ainda um estudante e aspirante a escritor, se deixa envolver por uma proposta irrecusável: editar uma revista literária com um generoso financiamento por parte de born. porém, algo terrível acontece e esse algo terrível afetará a vida de walker pra sempre.
no entanto, e o mais legal é isso, é que a história tem feições de uma linearidade que logo é rompida. o livro está dividido em quatro partes e, embora os personagens sigam os mesmos e a história seja sempre em torno do tema do acontecimento horrível, outras coisas se desdobram a partir daí.
dei 4 estrelas pro livro, mas já tô achando que deveria ter dado 5, pois a história me deixou impaciente em alguns momentos, mas eu só consegui largar o livro quando terminei. e isso é um cinco estrelas facinho.
essa matéria fala um pouco sobre invisível e sintetiza o universo auster no primeiro parágrafo.
in progress
noite do oráculo, daquele autor
o enredo é muito parecido com todos os outros livros do auster. acho que ele é meio obcecado com umas parada aí.
ruído branco ainda em pré-venda
isso mesmo, até o dia 24 de fevereiro dá pra TANKAR a campanha de pré-venda do ruído branco. deu tempo até de virar o cartão em fevereiro.
por hoje é só
termino de escrever as duas seções finais dessa carta dia 22 de fevereiro, que é quando o ano de fato começa.
bêjo!
sue ⚡
“acredito justamente no contrário. em muitas situações, falar como a gente se sente em relação a algo que fazemos é fundamental para entender as motivações das nossas ações, o resultado que esperamos, o resultado entregue e, em especial, quais expectativas queremos atender.“ — entregou tudo, Su.